''A imaginação é o mais forte dos sentimentos. Quando me deito, é nela que encontro toda a paz que me embala como se fosse uma criança e me faz dormir com a tua imagem, o teu cheiro e a tua pele sobre a minha durante toda a noite. Fecho os olhos e de repente estás ao meu lado, perfeita, bela, terna. Sinto o teu sangue a correr pelas minhas veias enquanto o meu corpo se enche do teu. Sinto o peso das tuas pernas sobre as minhas ancas, enquanto seguro o teu peito com os meus braços e agarro a tua nuca e a tua cara como se fosses uma estátua grega.
Quando amamos verdadeiramente alguém, nunca mais deixámos de amar. A memória instala-se como uma praga impossível de dizimar e aprendemos a carregar esse peso como se fosse nosso. E é. A tua memória é doce e fresca, como tu. Traz-me sempre o teu sorriso aberto, os teus olhos grandes de criança, cheiro do teu cabelo despenteado, a tua calma e o teu talento para ser feliz. Guardo tudo como um tesouro que se encontrou por acaso, mas não se tranca num cofre porque nunca foi nosso, mas apenas um presente da sorte. Guardo tudo em silêncio, enquanto imagino que fazes o mesmo e que estou por aí, invisível e imaterial, a povoar o teu sono e a fazer-te sorrir quando caminhas pelas ruas e entras em lugares onde fomos felizes. Tenho a certeza que também te vais lembrando de mim aos poucos, como quem desfia um novelo e o deixa rebolar pelo chão. Também guardas o nosso amor em fotografias, cheiros e gestos. Também fechas os olhos para me ver melhor. E guardas, essas sim, como tesouros, porque foram mesmo escritas para ti, todas as palavras que te dei.
Às vezes a tristeza invade-me os dias, quando, sempre de manhã, o sono se retira e sou obrigado a viver mais um dia sem ti. A vida é um sonho, é o despertar que nos mata, e quando estamos apaixonados nenhuma realidade nos toca, somos seres quase divinos, flutuamos sobre o mundo como deuses e tocamos a eternidade com a ponta dos dedos. Mas quando a paixão morre descemos à terra como anjos caídos, doem-nos os ossos da queda e sentimos que perdemos todo o poder que tínhamos, o toque divino, a capacidade de voar, a vontade que vencia todos os silêncios e todas as distâncias. A paixão morre como uma flor, dura apenas uma estação, um Verão glorioso, alguns meses de sol e calor. Depois, é preciso receber o Outono e aceitar a queda das folhas das árvores como o caminho de todos os anjos e guardar o coração do frio, hibernar a alma, protegê-la de todos os frios e plantar a esperança debaixo da terra, ao lado das sementes de flores de todas as cores que se vendem em caixas como sonhos prometidos.
Somos dois anjos caídos num Inverno sereno e tranquilo, somos duas memórias que o tempo não pode apagar, somos a imaginação um do outro, até que um novo amor rebente todas as portas e nos faça voar outra vez sobre todas as coisas, como semideuses, seres perfeitos e eternos, estátuas gregas que ligam o céu e a terra, a realidade e o sonhos, o presente e o passado com a ponta dos dedos. ''
Margarida Rebelo Pinto
Quando amamos verdadeiramente alguém, nunca mais deixámos de amar. A memória instala-se como uma praga impossível de dizimar e aprendemos a carregar esse peso como se fosse nosso. E é. A tua memória é doce e fresca, como tu. Traz-me sempre o teu sorriso aberto, os teus olhos grandes de criança, cheiro do teu cabelo despenteado, a tua calma e o teu talento para ser feliz. Guardo tudo como um tesouro que se encontrou por acaso, mas não se tranca num cofre porque nunca foi nosso, mas apenas um presente da sorte. Guardo tudo em silêncio, enquanto imagino que fazes o mesmo e que estou por aí, invisível e imaterial, a povoar o teu sono e a fazer-te sorrir quando caminhas pelas ruas e entras em lugares onde fomos felizes. Tenho a certeza que também te vais lembrando de mim aos poucos, como quem desfia um novelo e o deixa rebolar pelo chão. Também guardas o nosso amor em fotografias, cheiros e gestos. Também fechas os olhos para me ver melhor. E guardas, essas sim, como tesouros, porque foram mesmo escritas para ti, todas as palavras que te dei.
Às vezes a tristeza invade-me os dias, quando, sempre de manhã, o sono se retira e sou obrigado a viver mais um dia sem ti. A vida é um sonho, é o despertar que nos mata, e quando estamos apaixonados nenhuma realidade nos toca, somos seres quase divinos, flutuamos sobre o mundo como deuses e tocamos a eternidade com a ponta dos dedos. Mas quando a paixão morre descemos à terra como anjos caídos, doem-nos os ossos da queda e sentimos que perdemos todo o poder que tínhamos, o toque divino, a capacidade de voar, a vontade que vencia todos os silêncios e todas as distâncias. A paixão morre como uma flor, dura apenas uma estação, um Verão glorioso, alguns meses de sol e calor. Depois, é preciso receber o Outono e aceitar a queda das folhas das árvores como o caminho de todos os anjos e guardar o coração do frio, hibernar a alma, protegê-la de todos os frios e plantar a esperança debaixo da terra, ao lado das sementes de flores de todas as cores que se vendem em caixas como sonhos prometidos.
Somos dois anjos caídos num Inverno sereno e tranquilo, somos duas memórias que o tempo não pode apagar, somos a imaginação um do outro, até que um novo amor rebente todas as portas e nos faça voar outra vez sobre todas as coisas, como semideuses, seres perfeitos e eternos, estátuas gregas que ligam o céu e a terra, a realidade e o sonhos, o presente e o passado com a ponta dos dedos. ''
Margarida Rebelo Pinto
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